Sunday, April 20, 2008

Olhar do outro "o mundo dos homens"

Minha trajetória pela busca da imagem iniciou na infância. Eu assistia a tudo, de programas infantis até filmes de terror. Foi isso que despertou em mim a curiosidade em saber como era do outro lado da imagem. Como a imagem entrava na TV e chegava até o telespectador. Quando ouvia música imaginava uma imagem que se misturava com as palavras da canção juntando-se á melodia, era uma viagem e tanto, mas naquela época eu não tinha noção de nada, ouvia, gostava e pronto. Então lá pelo final dos anos 70, eu então com 8 de idade, estava aprendendo a ler e escrever. Meu pai cultuava o hábito da leitura e tinha em casa uma grande quantidade de livros. Os que mais me chamavam atenção eram os da Maçonaria, porque são escritos em siglas, o que se torna difícil compreender. Só os maçons sabem o que realmente significa. Até hoje leio livros de variados gêneros. Não tenho uma preferência de tema desde que a leitura seja interessante. Talvez, naquele tempo, quando agreguei a leitura, o meu interesse em saber mais sobre imagem deva ter ficado ainda maior. No entanto me recordo que a cada texto, assunto ou história, era uma viagem a mais na minha vida. Passei muito tempo fazendo isso com o acesso limitado pela TV. Havia noites que eu não conseguia dormir e ligava a TV da sala de casa quando todos dormiam. Um dia eu estava zapeando a procura de algo interessante no meio de uma madrugada silenciosa em casa quando encontrei um programa chamado Sala muito especial. Naquele ano eu não entendia bem, mas o primeiro filme que assisti era do Nelson Rodrigues. Essa foi a primeira noite de muitas outras que vieram a partir daquele momento. Lembro que eu não dormia esperando ficar tarde nas noites de sexta-feira para assistir os filmes desse programa. Esse foi o começo para eu assistir de tudo em pouco, de Bang-bang a clássicos como Condessa descalça e Doutor Givago, esses foram os primeiros filmes que marcaram para sempre em minha memória. Também nesse período lembro de ter ouvido no rádio a música Under pressure da banda Queen. Eu imaginava as imagens, o ritmo da música que tomou conta dos meus sentidos. Isso já nos anos 80. Quando meu pai trocou a TV preto e branco pela colorida foi uma festa para mim. Comecei a assistir a um programa musical chamado Globo de ouro. Lá pude ver pela primeira vez Freddie Mercury. Do sempre serei fã. Aos 10 anos ir ao cinema era impensável então tinha que me conformar com a TV. Já em 1984, finalmente, consegui entrar no cinema com um colega da escola para assistir La Bamba, desde então sempre que podia gazeteava aula só para ir ao cinema. Quando terminei o colegial tive que mudar de escola. Essa foi a minha perdição. Comecei a assistir a filmes mais pesados. São incontáveis as vezes que subornei o bilheteiro para entrar no cinema só para ver filmes para maiores de 18 anos, cheguei a ser reprovada na escola por causa das minhas escapadas ao cinema. De lá pra cá, até hoje não parei. A diferença é que agora sou livre para ver o que quiser e quando quiser. Mas eu tinha um sonho que era muito distante ou quase impossível de acontecer naquelas décadas. Hoje eu acho que isso já veio determinado na minha vida, pois desvendar o segredo da imagem naqueles dias era minha paixão, meu opio proibido, em que hipótese alguma poderia ser alimentada por mim. O jeito era me contentar em vê-las, sem nunca imaginar concebê-las. Mesmo assim, no decorrer do tempo, comecei a estudar sobre técnica e estética nos livros que eu adquiri sobre cinema. Nos anos 90, conformada que isso não era para mim decidi escrever um livro chamado Rio sozinho, ao qual nunca foi concluído. O problema é que eu não conseguia escrever literatura. A estória só vinha na minha mente em imagem com ordem cronológica e tudo. Talvez meu cérebro estivesse costumado a ler só desse jeito. Porém em 1997,  ao passar por uma livraria no centro de Manaus vi numa estante um único exemplar do livro do Milton Hatoum Relatos de um certo oriente esquecido em uma prateleira empoeirada. Mal sabia eu que anos depois eu iria sentar no bar Laranjinha na praia da Ponta Negra em companhia do próprio Milton para falar da adaptação do conto Nas asas do condor e nem que levaria o diretor francês Pitof  de Mulher gato e Vidock para tomar cerveja na praça do D. Pedro. E mais tarde poder escrever junto com meu amigo Carlos Garcia nosso primeiro longa-metragem e ter a trilha sonora assinada por Rosemberg Cariri de Corisco e Dadá  entre outras obras de relevância desse grande cineasta ao qual tive a honra de conhecer na minha cidade e nos tornamos grandes amigos. Tenho também outra paixão: filmes estrangeiros fora da grande industria Hollywoodiana. Dou preferência aos asiáticos, em especial, os japoneses. Minha mãe era budista e por isso durante minha adolescência tive oportunidade de conhecer essa cultura bem de perto. A mitologia deles é fascinante. Mas foi só aos 30 anos que decidi ser católica depois de ter conhecido quase todas as religiões possíveis. Também dou preferência a filmes chineses, russos, vietnamitas e alemães. Tive oportunidade de assistir um filme iraniano Filhos do paraíso. Mas voltando ao livro Relatos de um certo oriente. Eu digo que não li, mas sim “devorei” inteiro. A forma que Milton escreve é perfeita. É um filme. Só falta mesmo é organizá-lo na cronologia da imagem correta. Em 1999, quando eu adquiri o livro Quatro Roteiros de Sid Fild  é que eu, finalmente, compreendi que sempre escrevi em forma de roteiro, contudo, faltava saber organizá-los de forma correta. Desde então comecei estudar formas, estruturas, linguagens, escaletas, entre outros itens importantes utilizado no mercado audiovisual nacional e internacional e pensar em qual seria o meu estilo de obra fílmica. Em 2001, com a retomada do cinema local no Amazonas foi que eu vim me aprofundar mais no assunto para tentar seguir uma carreira profissional. Naquela época ouvi um colega dizer  a seguinte frase: quem tem um olho em terra de cego é rei. Outro replicava em dizer: quem tem um olho em terra de cego é caolho. Então minha paixão pela imagem de novo renasceu em um tempo em que eu já estava quase desistindo para virar uma escritora literária. De qualquer forma ainda não desisti de ser escritora já que de alguma maneira me tornei escritora da imagem.