Chamar a Índia de incrédula é fácil, escrever sobre ela é um desafio. Expor seus tabus fica a cargo da diretora indiana Deepa Mehta como o filme “FIRE”, ver e sentir o verdadeiro sentido da palavra “esperança” sob o olhar das imagens de “QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?” é com o diretor inglês Danny Boyle e poder olhar esse país com desprendimento é para ALMAS SENSÍVEIS. Minha visita à Índia foi motivada pela compreensão do diferente. Eu não sofri choque cultural porque sou uma pessoa de hábitos simples. O que eu escrevo não são críticas e nem reclamações, são situações vividas por uma brasileira que olhou a Índia apenas como um ser humano deve o olhar o outro mesmo que certas situações possam ser absurdas e e tentar explicar possa ser mais ilógico ainda. A Índia pode ser o país do contrassenso, mas o meu país chamado Brasil é o país dos excluídos e onde tudo é permitido. Para toda causa também existe efeito e se colocarmos o belo na frente do feio e tivermos de fazer uma escolha, com certeza escolheremos o belo, mas vale ressaltar também que nem tudo que é belo é realmente belo e nem tudo que é feio é realmente feio.
Na Índia o pouco se torna muito para a maioria das pessoas e mesmo que ela viva em processo de evolução social e econômica o povo indiano vive forjando o seu real valor, pois se perde milhões de rúpias por não saber ou não querer fazer com que o tradicional e o moderno andem lado a lado. O tempo não passa na Índia e nos dá tempo para repensar na essência do valor humano e viver um dia de cada vez, lembrando o quanto somos apegados ao mundo material e capitalista. Nós não podemos aceitar o mundo da irracionalidade, dos excluídos e onde tudo pode, mas também não podemos culpar a nós mesmo se um ser humano nasce pobre ou rico e questionar “por quê” tudo que não é aceitável é pior. A vida nunca será justa para ninguém, muitos nascem pobres e morrerão pobres e poucos nascerão ricos e morrerão ricos, ou pode acontecer o inverso de situações, seja ele material ou espiritual. Não podemos escolher onde iremos nascer, mas podemos escolher onde iremos viver se a condição humana permitir, por isso é melhor tentar entender.
Então vamos oferecer o melhor que tivermos, mesmo que seja pouco ou quase nada, sem esperar nada em troca, a satisfação disso tudo está em ver por um momento um sorriso estampado no rosto de uma pessoa que conhece muito pouco o que é felicidade, mesmo que isso dure o tempo do abrir e fechar de um olhar. É preciso compreender nós nunca poderemos resolver os problemas da humanidade, mas se fizermos uma pessoa sorrir o céu se abrirá e Deus ficará satisfeito em ver crescer a pirâmide da esperança no mundo.
A maioria das pessoas que visitam a India reclama da sujeira, do fedor, do machismo, da submissão da mulher, do caos no trânsito, da higiene, da falta de educação, da bagunça e sem falar da falta de infraestrutura que é geral. Sandra Bose tem razão ao usar a sinceridade em suas palavras “quem quer ver tudo limpo, funcionando e organizado, não vá para a Índia, vá para Europa” a Índia não é um lugar ideal para ser visitado “por pessoas limpas” lá se aprende que se sujar faz bem para o corpo e a alma.
A Índia trouxe-me coisas boas e o meu melhor momento foi ver Bombay adormecer e acordar sem fechar os olhos para a vida. Da janela do meu quarto eu pode ver a vida desprendida passar depressa. Eu não sofri nenhum tipo de preconceito, talvez, por parecer com uma mulher indiana, mas quando eu abria a boca para falar meu inglês abrasileirado acabava sempre virando o centro das atenções e quando falava sobre a Amazônia era como falar de Marte. Os indianos têm muitas curiosidades sobre o Brasil e foi na Índia que eu dei-me conta que o Brasil também tem várias Índias, pena que ambos se conhecem tão pouco. O que a Índia sabe sobre nós brasileiros? Resume-se a carnaval, futebol e mulher pelada. E o que nós brasileiros sabemos sobre os indianos? Limita-se apenas ao machismo, as vacas sagradas e na submissão da mulher. NAMASTE