Saturday, December 28, 2019

A VIDA É UM ETERNO SE


Às vezes pergunto a mim mesma como seria o hoje SE eu tivesse pedido para ele ficar. Mas naquele momento só passou pela minha mente o que ele ainda poderia ter e no que eu jamais poderia oferecer. Uma família. A sua família. Pessoas que de fato estivessem dentro de sua realidade e as quais eu não poderia me enquadrar por fatores estruturais, culturais e sociais. 
Nosso primeiro contato foi virtual por causa do trabalho. Achei interessantes ter coisas incomuns entre a gente. Depois conversamos e confesso: a paixão me tomou de assalto por aquela voz do outro lado do Skype. No entanto eu precisava focar em nossa longa trajetória de trabalho. Isso era importante. Por isso estava fora de cogitação mudar o curso combinado. Eu não queria estragar algo bonito em seu nascedouro. Mesmo assim, lá no fundo da minha alma eu sentia algo tardio para ser mudado. Acho que mais eu do que ele. Uma fantasia. Uma quimera com voz masculina agradável ao meu âmago que ansiava ver de perto seu rosto e abraçá-lo. 
Um dia peguei um avião e fui parar em na cidade onde ele morava com a desculpa de resolver algumas coisas minhas. Ele não conhecia as minhas verdadeiras intensões, mas sabia que eu estaria lá. Contudo, eu não queria encontrá-lo. Tentei fugir desse encontro. Porém, de forma surpreendente, ele veio até mim. Acho que nunca suei tanto as mãos naquele dia. Ficou claro também para mim que ele queria me ver, sentir e olhar para minhas verdades escondidas. Por dias fiquei mal e me isolei no quarto do hotel até receber o convite dele para almoçar. Depois disso foram vários outros adoráveis encontros. Na verdade ele queria me conhecer melhor. Eu percebi isso. Todavia escondi-me dele e de mim mesma como pude. Por um tempo precisei analisar tudo aquilo por ter sentimentos crescentes por ele. Num começo de uma das várias noites paulistanas fomos tomar café com amigos incomum, depois fomos caminhar pela Paulista até meu hotel e numa travessia em uma das alamedas antes que eu colocasse o pé fora da calçada de pedestre fui puxada de súbito. Na verdade, ele me protegeu próximo de si e evitou que um carro me pegasse na pista. Até hoje sinto o braço dele entrelaçado ao meu corpo de forma respeitosa e acolhedora. Ao chegarmos ao hotel pedi para ele subir comigo para conversamos, entretanto, fui surpreendida com a interrupção de uma ligação da recepção. Fiquei sem jeito com a regra do hotel por ele ter subido ao meu quarto. De repente, fui invadida por um turbilhão de pensamentos. Fui estúpida por ter me embaralhado. No fundo eu queria que ele tivesse ficado comigo naquela noite. Eu pude ver nos olhos dele que ficaria se eu tivesse pedido. Senti-me pequena diante de uma escolha difícil. Assim mesmo, com meu coração em prantos cuidei de dar a desculpa mais esfarrapada da minha vida e o deixei ir embora. Orgulhoso, ele encarou o meu pedido com a rejeição masculina de um homem que tem o brio ferido sem ter noção da minha dilaceração interna.

Após alguns minutos tomei apressada o elevador e corri atrás dele, no entanto, era tarde demais. Voltei para o apartamento desolada. Só restou naquele instante olhar pela janela do quarto e observar aquela esquina já pouco movimentada por ter passado da meia-noite. Após esse ocorrido ele quis apenas terminar o trabalho, se distanciar e seguir adiante com sua vida. Sei. Devo ter aberto uma ferida imensa nas expectativas dele. Mas juro! O meu amor por ele tem se mantido  puro e altruísta. SE um dia ele ler esse texto vai saber dos sentimentos acalentados por anos. SE eu tivesse tido mais tempo TALVEZ as poesias escritas por ele pertenceriam a mimSei. É tarde. Nunca mais vamos nos encontrar e arrependo-me do SE do agora.