Escrever minha primeira crítica literária muito me orgulha,
ainda mais dissertar sobre o trabalho da jovem escritora Izis Negreiros e sua
obra “Entre nós dois...”e como jornalista escritora que também sou, ao realizar este trabalho tão sério que é a análise de um romance, senti que teria
uma grande carga de responsabilidade, por saber quanto tempo de pesquisa,
tratamentos e revisões, a autora teve de fazer.
Ao receber o exemplar do livro com dedicatória e tudo que eu
tinha direito, comecei a devorá-lo no outro dia, aí entrei numa espécie de
transe e reflexões... Mesmo eu sendo uma “devoradora de livros”, os livros são
minha melhor companhia, poucos escritores amazonenses me chamaram a atenção
nestes últimos anos...“com exceção, é claro, das obras de Márcio Souza”, porém senti
um certo incômodo ao ler e tentar decifrar o trabalho da autora, onde não havia um prefácio, portanto não
propiciava uma preparação do leitor para o que viria a encontrar em seu
conteúdo, então, deixei-me levar pelas palavras. A narrativa apresenta uma
forma não linear, o texto apresenta um emaranhado na construção literária como
se fosse um labirinto ainda nas primeiras páginas em relação a
personagem Vania e o personagem que narra o texto na primeira pessoa. Seria
este um livro autobiográfico? Ah! Pouco me importa que seja. Eu mesma já me
transportei para tantas personagens ditas “ficcionais” e me vi na trama. No
fundo eu também queria “encontrar o sentido da existência das minhas emoções” logo
outro trecho chamou-me a atenção onde visualizei as palavras como se fossem
imagens contidas em um filme “do lado de dentro do aeroporto, posso observar o
reflexo esplendoroso do sol forte transpassar pela parede de vidro da sala de
espera” e esta luz forte me invadiu a alma, observei o plano sequência que se estendia numa pista de decolagem, um
rápido close na mulher que observa os aviões que logo estaria saindo do país
para outro longínquo e exótico que a muito tempo povoava seus sonhos e desejava
conhecer, a India.
Embora a forma descrita literalmente nas primeiras páginas, mudavam
bruscamente as situações e as ações e palavras dos personagens se traduziam em
forma de diálogo e outras vezes, explicativa e descrevia como um roteiro de cinema, ainda seguindo esta
escrita a introdução dos personagens na trama, mas o sofrimento e a dor
dilacerante de Vania e aquela relação de amizade com Nina, me comoveu de uma
forma que descrevia toda a beleza, a bondade e a generosidade do amor fraternal
e citando Caetano, eu diria que “a poesia está para a prosa, assim como amor
está para a amizade...E quem há de negar que esta lhe é superior!”
Empolguei-me com as aventuras e desventuras de Vania; como
personagem principal, que não sábia o que iria encontrar ou aonde chegaria...Basta
dizer caro leitor que Vania chega à índia e narra incríveis observação de um
universo diferente, inúmeras surpresas que lhe revelava aquele outro lado do
mundo muito diferente do que ela imaginava ser.
Para Vania não lhe interessava o contexto político, social de
um país que todos criticam, conhecido pelo grande teor de miséria, transito
caótico transitando junto com vacas, elefantes e bicicletas. Percebi o respeito
da autora por essa cultura que é tão antiga e milenar de um povo que cultiva
desde Sidarta Gautama a mais linda forma de religiosidade.
Ao invés de abordar um país de miséria e diferenciações
sociais em nenhum momento descrimina este mundo urbano de diferenças sobre seu
ponto de compreensão, pelo contrário, ela descreve seu olhar diante do que vê
deste país de forma mágica, cativante sem nenhum comprometimento sobre o real e
desta forma o livro caminha, sempre indagando sobre a compreensão de seu entendimento
ou não? Basta comentar que os personagens vão além de nossa imaginação na
forma de um retrato, o que me lembrou em parte o trabalho de Magarite Duras em
seu livro “O amante”, claro que a autora, observa sua obra do ponto de vista onde
nós leitores nos esquecemos do óbvio, pois entramos no mergulho narrativo intenso
das aventuras e desventuras dos personagens e sua viagem em busca do novo de
nossas próprias vidas.
Socorro Langbeck
Mestre em fotografia e jornalista