Saturday, September 17, 2016

ELA NÃO É ELA. ELA É ELE

Ela ou ele? Como queiram se dirigir a ela. Talvez ela deseje apenas deixar um recado ou mesmo ser uma amiga que nos alerta para não irmos por caminhos que às vezes podemos julgar como certo. Outro dia eu estava voltando para casa. A estrada estava bem tranquila para dirigir no horário noturno, por isso me atrevi a ouvir a minha playlist preferida no iPod. Já era tarde quando avistei um grupo contendo muitas e variados estilos de motocicletas. Elas passaram rápidas por mim fazendo manobras bem ariscadas. 

O barulho era tão estarrecedor que dentro do carro eu podia sentir o chão vibrar. Aí acelerei também e os segui por aquela estrada. Não posso negar que a velocidade é algo excitante, pois é fácil compreender e invejar o que eles desejavam daquele instante, mas há uma grande diferença entre estar em uma motocicleta e um carro protegido por uma carroceria, então o mínimo que podia acontecer, dependendo, do tipo de acidente era ter meus ossos fraturados. Porém, no caso em que algum deles caísse em alta velocidade seria algo bem inimaginável. No cruzamento seguinte finalmente os alcancei e pude ver quantos eles eram. Eles estavam bem a minha frente esperando em fila para descer a curva do inferno e sentir a mais pura adrenalina. Por um momento eu disse a mim mesma - Ha! Então são vocês que todas as quartas perturbam meu sono com o barulho desses motores? Mas como pode uma pessoa colocar sua vida no limite? - De repente uma voz disse-me baixinho - Qualquer dia vou dar-lhe uma demonstração. Talvez apenas uma lição ou não? - Passado alguns dias depois e voltando para casa fazendo o mesmo percurso deparei-me com um aglomerado de carros, motocicletas e gente no mesmo lugar. O trânsito estava caótico, lento e bagunçado para aquela hora da noite em uma via que não costuma ser movimentada. Pensei que devia ser algum acidente. Então parei o carro no acostamento e misturei-me a outros curiosos para saber o que de fato ocorria ali. 
Para minha surpresa era um deles. Um daqueles jovens destemidos que dias antes desbravava a estrada desafiando a curva do inferno na mais pura euforia. Talvez, ele até tivesse passado por mim outro dia.  Não posso negar que senti um aperto em pensar que outras pessoas vinham em outros veículos atrás dele e que poderia ter acontecido coisa pior devido a circunstância. No entanto, a única verdade que estava a minha frente era aquele rapaz semimorto sobre o asfalto. Um de seus colegas andava de um lado a outro segurando o celular e aos gritos com alguém do outro lado da linha. Havia também outra pessoa vasculhando os bolsos do rapaz a procura, talvez, do celular dele para avisar os parentes. Enquanto isso mais pessoas iam se aglomerando. E, novamente ouvi aquela mesma voz de outro dia dizer - Eu não te disse? - Disse o quê? Perguntei sem prestar atenção em quem falava comigo. Então ele replicou - Há pessoas que chamam por ela achando que, ela é ela. Há pessoas que jamais querem vê-la. Há pessoas que imaginam que ela é a solução, porém, há outras que apenas a temem. Também há pessoas que simplesmente a respeitam, porque sabem que nada não se acaba em nada, e que logo tudo passará para um estado ao qual não se pode explicar. Curiosamente, tive vontade de voltar meus olhos para ver quem estava atrás de mim tecendo palavras de tão forte reflexão. No entanto, além de mim só havia duas moças conversando entre si. Saí dali pensando que a nossa consciência fala conosco o tempo todo. Que ser mau ou bom é uma escolha de natureza humana. Que bondade e maldade não é exclusiva de ninguém, pois o que realmente pode diferenciar uma pessoa de outra é como ela chegará ao final de tudo.