“Esta vida, assim como tu
vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras
vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento
e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida
há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência.”
Nietzsche
Confiar à vida no jogo da
possibilidade absoluta é no mínimo ser infantil ou ser inabalável com a desgraça.
Porém, isso acontece, principalmente por pessoas sensíveis e enobrecidas de espírito
e alma, que muitas vezes, ou quase todas às vezes, se sujeitam, sem questionar
nada, acabando por abrir mão dos seus reais valores. Na obra “A insustentável
leveza do ser” de Milan Kundera, tais situações ocorrem com Tereza quando aceita
a infidelidade de Tomas e o torna responsável por sua vida e inspiração.
Mas afinal, qual é o conceito de leveza
e peso? Segundo o filósofo Parmênides, leveza/peso possui duplo princípio, ou
seja, expor o peso como ausência, como não-leveza. Por este ponto
de vista podemos dizer que Tereza é um peso para Tomas, que este, por sua vez, encontra
em Sabina a leveza do peso, que por outro lado torna-se avessa a tudo que não seja
belo e sem brilho, portanto, é neste conceito que Sabina foge do mundo convencional,
livre do contrato social e consegue viver a mais plena individualidade humana deixando para Tereza o peso da angústia e do comprometimento da convenção social.
“Hoje cada um se permite exprimir seu desejo,
seu mais caro pensamento; assim eu vou dizer o que desejo hoje de mim mesmo, e
qual foi o primeiro pensamento que preencheu meu coração este ano, um
pensamento que deve ser a razão, a graça e a suavidade de toda a minha vida! Eu
quero aprender cada vez
mais a considerar a necessidade das coisas como o belo em si – assim, eu serei
um daqueles que tornam as coisas belas, amor fati: que seja este de agora em
diante o meu amor! Eu não vou fazer guerra contra o feio, eu não o acusarei
mais, eu não acusarei nem mesmo os acusadores. Suspender o olhar, que esta seja
minha única forma de negar.”
Nietzsche
É no cenário de Praga que podemos observar o ideal e o possível do peso e da leveza envoltos com temas da realidade e dos costumes do povo Tchecoslovaco,
interessantes a partir de pontos históricos a exemplo da “Primavera de Praga” contextualizados nas palavras do autor como
maquiagem social de nossa sordidez mais dissimulada, mas o que isso importa? Somos o que somos, quanto ao resto, não importa.
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Tudo vai, tudo volta;
eternamente gira a roda do ser.
Tudo morre tudo
refloresce, eternamente transcorre o ano do ser.
Tudo se desfaz tudo é
refeito;
Eternamente fiel a si
mesmo permanece o anel eternamente constrói-se a mesma casa do ser.
Tudo se separa, tudo
volta a se encontrar; do ser.
Em cada instante começa
o ser; em torno de todo o "aqui "rola a bola "acolá ".
O meio está em toda
parte. Curvo é o caminho da eternidade.
Zaratustra